The wake up of Chaos

terça-feira, junho 14

O despertar do Caos - P.O.V
Eu nunca pensei que o diabo saberia dançar, mas ele dançava, e muito bem. No ritmo envolvente e serpenteado, balança os monumentos de seu corpo curvilíneo e bronzeado, me guiando rapidamente para o Nirvana. E meus irmãos – coitados ­­–, estavam cegos diante de tanta formosura; o álibi não chegava a suas gargantas secas. Eu me divertia, e ficava louco; gozando e gritando silenciosamente em minha mente perversa, devassa, e demoníaca.

A mulher, ou melhor, aquela coisa, havia nos apresentado a um mundo diferente do qual estávamos acostumados. Algo belo, profano e porque não, sagrado? Mas conforme o tempo passava, meus irmãos me chateavam, com seus pensamentos mesquinhos e idealistas demais. Aquilo com certeza irritaria a diaba, que fez de nossas vidas monótonas, ser um jogo evolvente que cheirava a morte.
O poder que ela depositou na minha boca, arrancou urros e suspiros frenéticos de minha traquéia, quando aquela fumaça luminescente azul, circulou de minha língua, até a ponta dos meus pés. Eu estava possuído. Minhas veias vibravam, circulavam descolando a pele de minha carne. Gritos, e gritos; nada mais saía de minha boca, enquanto ela me seduzia novamente com sua dança pecaminosa. Estava ficando cansado, pesado, e a minha voz rouca havia cessado, estava sem forças, e ela insistia com aquela dança sobre mim.
Cadê meus irmãos? Forcei a cabeça para cima, e olhei para os lados, e lá estavam eles, atirados no chão, banhados pelo próprio sangue. Daí me dei conta, o quão idiota fomos em aceitar o convite do diabo.
– Quero ir embora. – murmurei assustado, não estava pronto para morrer. Com o último pingo de coragem que tinha, guiei meu olhar para a face daquele ser. Seus lábios carnudos sorriram de maneira divertida, que meu estômago se retorceu, liberando um líquido ácido horrivelmente incomodo. Mas o que seria vomitar, ou ter uma má digestão, enquanto era abusado por um dos filhos de Lúcifer?
– Meu Caos, você não irá a lugar nenhum. – O quê, agora ela me batizava? Por que Caos? Acho que algo pior do que a morte estava próximo a acontecer. Ela espalmou as duas mãos contra o meu peito, e deslizou pelo meu corpo até tocar a minha face. – Você é tão lindo, o mais lindo de todos os irmãos. Até a Luxuria foi derrotada diante do que vejo e toco. – ela baixou a face, e circulou meu mamilo com a língua. E naquele momento, eu quis chutar aquela diaba de duas tetas.
– O que você fez com eles? – gritei, ou pelo menos tentei; porque minha voz parecia um sino torto de uma catedral antiga. Ela não respondeu, somente ergueu as mãos, as apoiando contra os meus ouvidos. E como se eu fosse um pedaço de trapo, ela me puxou pelos cabelos azulados, me judiando como uma vadia de rua. Dor, ou não, eu não sabia distinguir, pois meu corpo estava amortecido diante de seu veneno. Para ter idéia, eu não fazia menção de minha respiração, e o salivar de minha boca havia desaparecido. Ela gritou e cavalgou sobre mim, e em um ato eloqüente, puxou dois chumaços de meus cabelos, os jogando para o alto. Juro, se eu conseguisse sair vivo daquele lugar, mataria aquela mulher a tapas e socos. Afinal, meu passaporte para o inferno já estava carimbado mesmo, há muitos anos.
– Você está pronto, meu Caos? Agora as coisas ficaram divertidas. – Os lábios vermelhos tocaram o meu pescoço, e lentamente desceram na direção de meu peito. Ou melhor, na direção do meu coração. Eu já estava com medo antes, agora, o que estaria sentido? Um medo mil vezes maior? Sei lá, era inexplicável; não havia palavras, pois nem ao menos meu corpo respondia. A única coisa viva ali era meu cérebro e meus olhos. Infelizmente, meus lindos olhos azuis, – sim, eu sempre os adorei –, enxergavam aquela prostituta dos infernos, e meus irmãos mortos nos cantos daquele quarto de bordel. A diaba dos longos cabelos negros e sedosos pôs o ouvido contra meu tórax, dominada por uma expressão de excitação, ao escutar as batidas provenientes de meu coração. Ela girou a face, e novamente sua boca me tocou. Meu corpo tencionou quando, também, seus dentes me alcançaram. Como doeu aquela mordida, até mesmo meu corpo amortecido, se despertou com aqueles dentes pontiagudos. Ela continuou mordendo, e mordendo, já estava sentindo-a dentro do meu corpo. Apavorado, muito apavorado, baixei milimetricamente meu olhar para o peito, e meu cérebro paralisou.
Eu estava aberto feito um porco sobre aquela cama de seda branca. Minhas mãos apertaram o lençol luxuoso, e me dei conta, o quanto ele estava molhado. Banhado por meu sangue. Balancei minha cabeça para todos os cantos, e o gosto salgado do suor entorpecia minha boca antes seca. Eu estava morrendo, aberto ao meio, com metade dos órgãos fora do lugar. Minha cabeça pulsava rapidamente, minha visão já não era mais a mesma; a iluminação das velas pareciam borrões de luzes. E a morena, gozava sobre o meu desespero, com a face coberta por uma máscara de sangue.
Os meus amados olhos – tão azuis e profundos, quanto à safira mais pura de um burguês –, estavam no limite, injetados pelo balbuciar da morte. Eu estava morrendo, tão novo, tão cheio de formosura e riqueza. E nada disso impedia que minha vida se esvaziasse conforme o sangue transbordava de minhas entranhas.
– Eu não quero morrer. – implorei num suspiro, enquanto aquela que me destruiu, se afastava de meu corpo desnudo. Ela circulou a cama luxuosa, e passou a mão ensangüentada sobre minha face, fechando meus olhos para o sono eterno.
– Querido, você não irá morrer. – senti a sua outra mão deslizar pelo pouco do meu abdômen, e mergulhar na cavidade que ela mesma havia criado com suas presas. Senti algo remexer dentro de mim, sua mão mergulhava em meus órgãos. Ela remexeu os dedos, e tirou de lá, algo maciço que retumbava sobre a palma. Meu coração.
– Você será eterno. – e com aqueles olhos vermelhos, complacentes; o atirou do lado de minha cabeça. Aquela bola de carne pulsava ao lado de meu ouvido esquerdo, jorrando sangue de todas as artérias.
E foi naquele momento que, morri pela minha primeira vez.
O som do piano me despertou, e com ele meu novo "eu" havia vindo à tona. A única coisa que sabia sobre minha vida recém iniciada era que, meu nome era Caos.

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